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olhares sem olhos...


... ou um Algarve fotografado por Duarte Belo.

Duarte Belo (1968 - ), arquitecto e fotógrafo, dedicou-se à região algarvia em três livros distintos. O primeiro intitula-se ALGARVE e surgiu como um dos volumes da colecção Portugal - O Sabor da Terra, com textos de Luís Filipe Oliveira remodelados por José Mattoso e Suzanne Daveau. A obra foi inicialmente editada em 1997, para o Pavilhão de Portugal na Expo’98 e para o Círculo de Leitores. Em 2010 o Círculo de Leitores reeditou a colecção num único volume, com texto idêntico e fotografias de (muito) menores dimensões (e qualidade). O segundo livro tem como título Território em Espera. Algarve Interior e foi publicado em 2005 pela Assírio & Alvim, para a Faro - capital nacional da cultura 2005. Os textos que acompanham as imagens são muito breves e da autoria do arquitecto e fotógrafo. Há, entre as duas séries fotográficas, uma inequívoca coerência estética. O Algarve de Duarte Belo surge representado nas suas fotografias como um território imaginário, uma construção mental a partir de uma realidade segmentada por uma visão muito pessoal. São o fruto de um exercício verdadeiramente sem pessoas...

Escreveram Mattoso, Daveau & Belo no texto introdutório do livro publicado em 1997: o Algarve tem ainda riquezas escondidas que os apaixonados da paisagem e do carácter da terra conseguem ainda descobrir e apreciar. Não existem só na Serra, salvaguardada pelas maiores dificuldades de acesso e protegida pelo esquecimento a que foi condenada, e, por isso, ainda em condições de recuperar alguma da sua antiga importância, pelo menos no caso de se vir a intensificar o crescente interesse pelas questões do património e da identidade regionais. Encontram-se, também, ainda, em alguns lugares do litoral. As fotografias deste volume revelam alguns deles. Tanto uns como outros preservam ainda valores diametralmente opostos aos que o turismo fácil procura. Não é possível a conciliação entre uns e outros. O Algarve está dividido, talvez para sempre, entre as suas duas faces, a da prostituição de uma natureza esplêndida e a da sua preservada autenticidade.

Em ALGARVE. Portugal - O Sabor da Terra a preservada autenticidade e o carácter da terra parecem querer explicar-se em 48 imagens a P&B, feitas desde o Cabo de S. Vicente até Alcoutim. Interessantes e desconcertantes (mais desconcertantes que interessantes), porque sejam do Algarve serrenho, do Barrocal ou do Litoral, são quase sempre de desertos humanos. Apenas dez pessoas, e sempre ao longe, se vislumbram nestas paisagem humanizadas onde não faltam registos das cidades e vilas de toda a região...

A inexistência de pessoas é levada ao extremo em Território em Espera. Algarve Interior. Duarte Belo representa-o sem qualquer exemplar vivo ou morto do Reino Animal, excepção feita para uma pequena formiga :-(). Mesmo que António Eusébio, então Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, escrevesse sobre os homens corticeiros da sua terra, eles não se assomaram em nenhuma das imagens. O livro apresenta 50 fotografias a P&B, frequentemente sombrias, que deixam na memória do leitor uma ideia triste, deprimente, do Algarve interior. Não só porque tratam de um território plenamente humanizado mas sem homens, mas também porque tratam de uma natureza decadente, decrépita, moribunda, muito preenchida por sobreiros e sobreiras que já mal lhe merecem o nome e o adjectivo.

Estes dois livros de Duarte Belo sobre o Algarve são, em síntese, singulares. Carregam em si olhares sem olhos que nenhum outro fotógrafo viu da mesma forma!

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